O terceiro setor¹ é composto por organizações sem fins lucrativos que têm como objetivo promover o bem-estar social e atender às necessidades de diferentes comunidades que enfrentam desafios únicos para otimizar a captação de recursos, a gestão eficiente de projetos e da comunicação. A transformação digital² (TD) pode ajudar a superar obstáculos e maximizar o impacto social.

A adoção de tecnologias digitais pode melhorar os processos internos das organizações, aumentar a eficiência e otimizar a comunicação com o público. Isso inclui a utilização de redes sociais para divulgação, aplicativos para mobilização de recursos e plataformas de gerenciamento de projetos para facilitar a colaboração entre equipes.

Uma das principais vantagens da implementação do digital no terceiro setor é a capacidade de alcançar mais pessoas, fazendo com que as Organizações da Sociedade Civil – OSCs possam ampliar sua visibilidade e engajar um público maior em suas causas. Além disso, pode ser aliada em campanhas de crowdfunding e de doações recorrentes online.

A democratização de ferramentas que visam a eficiência na execução de atividades, bem como softwares de automação de processos para diminuir o tempo dedicado a tarefas manuais e/ou repetitivas, já vêm sendo utilizados para trazer maior dinamismo a diversas áreas de atuação. Isso permite que as equipes se concentrem em atividades mais estratégicas e no desenvolvimento de novos projetos. Tudo isso, atrelado a uma boa estrutura de governança, também favorece a transparência e agilidade na prestação de contas das organizações. Para além da tecnologia, podemos listar algumas bases fundamentais da TD:

1- Experiências – Considerar a jornada, os comportamentos e as expectativas de quem se quer alcançar e de quem entrega/produz, antes de investir em tecnologia.

2- Pessoas – São o elo, o ativo mais importante. É preciso investir no desenvolvimento de quem está envolvido e se comprometer com a ética do cuidado. Não podemos esquecer quem somos e nosso propósito, conectando humano a humano.

3- Mudanças – É o que faz girar a roda da transformação. Por isso é importante ter uma leitura aprofundada e criar formas de transitar para o novo com mais empatia e engajamento. A cultura está diretamente relacionada a este pilar.

É importante ressaltar que a transformação digital nos confronta com novas realidades, com a necessidade de profissionalização do terceiro setor, a fim de permitir que as organizações respondam melhor às necessidades das comunidades que atendem.

Com a utilização de ferramentas de análise de dados, por exemplo, é possível obter insights valiosos e adaptar seus projetos e serviços com mais assertividade. Isso pode resultar em um impacto social mais significativo e duradouro. É uma jornada que envolve toda a sociedade em processos de mudanças, afetando o cotidiano do trabalho e das relações humanas.

Mudança de mindset para conectar o que importa

As lideranças precisam estar atentas e buscar conhecimento para gerar soluções e inovações na área de atuação, principalmente porque a transformação digital requer uma mudança de mentalidade (mindset) e de processos, que envolve o triângulo que citamos anteriormente: pessoas, experiências e mudanças.

Segundo a Community Foundation da Irlanda do Norte, que conecta pessoas que se importam com causas importantes, o equilíbrio das mudanças trazidas pelas tecnologias digitais será determinado pelas intenções e valores daqueles com poder em suas mãos.

“A agenda da ‘tecnologia para o bem’ é, em última análise, sobre justiça social – sem controle, a grande tecnologia e a indústria de publicidade digital podem deixar as pessoas se sentindo impotentes e manipuladas, com aqueles que já estão no extremo das desigualdades sendo os mais afetados. É hora do setor VCSE (Voluntary, Community and Social Enterprise) se atualizar e ocupar seu lugar na mesa para garantir que a tecnologia seja usada para o bem social.” (Community Foundation)

Em resumo, as OSCs podem e devem se beneficiar dos avanços tecnológicos e acompanhar as mudanças cognitivas que estão acontecendo, preparando-se para superar desafios e maximizar seu impacto social. É essencial que o terceiro setor considere a adoção de tecnologias digitais como uma oportunidade para fortalecer suas atividades e alcançar seus objetivos sociais, sem deixar de acompanhar as reflexões sobre o uso responsável das tecnologias.

Aplicações da TD

Estamos vivenciando uma revolução digital, caracterizada pela mudança de status quo, que afeta toda a sociedade. Não se trata de algo passageiro, uma moda, mas algo irreversível, que exige adaptação e capacidade de antecipação e reação. Em uma análise prática, quando se pensa em doações, por exemplo, existe um movimento de pessoas conectadas que já estão testando novos formatos para contribuir e já têm apresentado outros caminhos para a ajuda humanitária.

O vice-ministro da Transformação Digital na Ucrânia, Alex Bornyakov, falou do Crypto Fund of Ukraine (recebe doações em criptomoedas) como um facilitador do fluxo de recursos para compra de itens de defesa e sobrevivência. O chefe de Blockchain e ativos digitais do Fórum Econômico Mundial, Brynly Llyr, comentou que “(…) um benefício importante dessas tecnologias emergentes é a capacidade de mobilizar, organizar e entregar muito rapidamente. (…) Vimos isso acontecer em tempo real na Ucrânia, onde você viu milhões de ajuda entregues em um dia.”

Outro exemplo é o CARE Crypto Fund for Humanitarian Aid, que financia diretamente iniciativas humanitárias críticas. A comunidade de criptomoedas está apoiando e fornecendo recursos vitais para as comunidades afetadas na Turquia e no noroeste da Síria. Estão direcionando as doações criptográficas para desenvolver soluções inovadoras para atender a emergências globais.

Uma aplicação já presente em muitas áreas, principalmente na Educação, é a gamificação (gamification) para auxiliar na produtividade, nas trilhas de aprendizado online e engajar colaboradores. Com o uso de aplicativos interativos, conjugados ao storytelling, essa é uma forma de obter resultados como retenção de conhecimento e desenvolvimento de comunidades.

E então, como você enxerga este cenário de quebra de paradigmas? Lembre-se: futuro é o agora em transição.


1- Terceiro Setor é composto por organizações privadas da sociedade civil, sem fins lucrativos, cujo propósito é direcionado para a justiça e bem-estar social. Popularmente chamadas de ONGs, atualmente são nomeadas como OSCs pela Lei 13.019/14.

2- Transformação digital pode ser definida como um fenômeno que incorpora o uso da tecnologia digital às soluções de problemas tradicionais. Wikipédia

Livros na lista para leitura:

  • Transformação digital: uma Jornada Possível, organizado por Peixoto C. Eduardo
  • Liderança disruptiva: Habilidades e competências transformadoras para liderar na gestão do amanhã, de Sandro Magaldi
  • A Quarta Revolução Industrial, de Klaus Schwab
  • Inteligência artificial, der Kai-Fu Lee

Comunicóloga/RP, com MBA em Mídias Sociais e Gestão da Comunicação Digital. Mestranda em Transformação Digital. Atua com design e comunicação de causas, campanhas e projetos socioeducativos, sensibilização e inclusão digital. Certificada em Gestão de Projetos (Project DPro pela PM4NGOs), coidealizadora do Circuito Comunicação de Causas e do Movimento A Força das Mulheres no Terceiro Setor. Articuladora social engajada na defesa dos direitos humanos e empoderamento feminino.