A Rede Oblata trabalha para tornar mais justo e menos vulnerável o caminho de mulheres em contextos de prostituição e vulnerabilidade social

O trabalho da Unidade Diálogos pela Liberdade, obra social da Rede Oblata na capital mineira, teve início como Pastoral da Mulher, em 1982, quando se sensibilizaram com a situação das mulheres em contexto de prostituição nos bairros Lagoinha e Bonfim, região de acentuada concentração de prostíbulos na época.

A unidade coordenada pelo Instituto das Irmãs Oblatas do Santíssimo Redentor, acompanhou o desenvolvimento da cidade de Belo Horizonte. Com a revitalização do bairro do Bonfim, a prostituição migrou para o centro, na região da chamada Zona Guaicurus e redondezas. Acompanhando essa migração, no ano 2000, a Pastoral da Mulher adquire um novo espaço, no eixo central da prostituição de BH e, posteriormente, fixa sua sede entre a rua Santos Dumont, 664 e a Rua Guaicurus, 669 – atual endereço. Assim, se fazem presentes e próximas, disponibilizando um espaço que foi “batizado” pelas mulheres assistidas de “Cantinho da Paz”.

O trabalho é baseado em uma proposta pedagógica que contempla etapas adaptadas à realidade de cada mulher, de forma libertadora e resiliente. O acolhimento sempre foi um traço das Oblatas no relacionamento com o público atendido. Miriam de Paula Fagundes foi testemunha da receptividade das religiosas. “Conheci a pastoral mais ou menos há uns 20 anos. No princípio achei muito estranho, porque não me sentia merecedora do abraço de uma irmã de caridade. Me emociono ao falar da Pastoral. Quando fui encontrada, estava em um momento lastimável de saúde. Nasci de novo como pessoa”, diz emocionada.

Para ampliar seu alcance, expressar sua filosofia e modo de atuar, o projeto de missão passou a se chamar Diálogos pela Liberdade, consolidando sua marca em 2016. Para dialogar nesse complexo contexto, realizam visitas aos hotéis de prostituição, levando materiais socioeducativos e convidando as mulheres para participarem das atividades oferecidas em sua sede. Existe um processo de formação para preparar as equipes que vão entrar nos ambientes prostitucionais, a fim de que o objetivo seja cumprido com um olhar empático, profissionalismo e pautado no carisma Oblata.

“Primeiro, fizemos um estudo com reportagens sobre prostituição. Depois, nos dividimos em grupos e fomos para as ruas. A gente falava que era da paróquia e tinha grupos de reflexão. Aos poucos fomos criando vínculos com algumas mulheres e trazendo-as para o projeto. A intenção é despertá-las para novos pontos de vista, proporcionando uma análise sobre suas condições de vida e oferecendo uma perspectiva sobre novas possibilidades”, relata Irmã Ivoni Grando – OSR, que atuou como coordenadora da unidade em Belo Horizonte.

Nesses 40 anos de atuação em defesa dos direitos humanos das mulheres, em uma dinâmica de escuta ativa e pautadas em uma espiritualidade holística, Diálogos pela Liberdade diversificou e evoluiu na sua acolhida, investindo em práticas integrativas, apoio psicológico e jurídico, rodas de conversa e formações gratuitas para as assistidas.

Para a Irmã Analita Albani, coordenadora provincial Oblata, o momento é de celebrar e agradecer. “A celebração dos 40 anos do projeto em Belo Horizonte integra a comemoração do bicentenário do nascimento da Madre Antonia. Ela, certamente, também se alegra conosco! Esses 40 anos foram marcados por muitos momentos de alegrias acompanhados, sem dúvida, de fortes experiências de dor e, às vezes, de frustração. E assim é a vida! O importante é permanecer no amor e perseverantes na fé, certas de que sempre que confiamos, o Senhor caminha conosco e nos indica o caminho mais adequado para cada tempo”, conta.

É importante ressaltar que a Organização atua em conjunto com a rede socioassistencial, em busca de um atendimento mais humanizado para as mulheres. Na sensibilização social, conecta-se com os Conselhos da Mulher e de Assistência Social, coletivos, pastorais, movimentos populares e outras instituições religiosas, desenvolvendo palestras, seminários e conteúdos informativos, distribuídos de forma presencial e digital.

A celebração do aniversário aconteceu no dia 24 de agosto, na sede da unidade, com a presença das Irmãs Oblatas, mulheres assistidas, voluntárias e voluntários e parcerias que fazem parte dessa história. Estiveram presentes representantes do Hospital Sofia Feldman, do Conselho da Mulher, pesquisadores da PUC Minas, Nanda Soares (Conectidea), o quadrinista Hilton Rocha, seminaristas Jesuítas, Padre Júlio, Jerusa Drumond (Procuradora do Estado de Minas Gerais) e Irmãs da Congregação Filhas de Jesus.

De forma virtual, aconteceu uma interação com as comunidades Oblatas, com falas da Ir. Alejandra (Espanha) e de outras unidades da Província Santíssimo Redentor, incluindo Brasil, Argentina e Angola; Irmão Wander (Rede Um Grito pela Vida) e José Manuel Uriol, que prestou homenagem e relembrou sua caminhada quando atuou como coordenador na unidade.

Com implicação profética e solidariedade real, a Rede Oblata, por meio de seus projetos de missão no Brasil, trabalham para tornar mais justo e menos vulnerável o caminho de mulheres em contextos de prostituição ou vítimas do tráfico para fins de exploração sexual, atuando diretamente na redução de danos, sensibilização da sociedade e defesa dos seus direitos humanos. É um passo a passo na jornada com as mulheres assistidas, que são apoiadas e incentivadas no resgate de sua cidadania, fortalecimento da autoestima e empoderamento por meio do conhecimento sobre as questões sociais, de gênero, saúde e trabalho.

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